sexta-feira, 21 de maio de 2021

Violão em Tempos de Pandemia - II - Aulas

     A pandemia, e seus cuidados, teve um forte impacto no formato das aulas de violão, uma atividade na qual dedico boa parte do meu tempo. A partir de março de 2020 todas os meus alunos de instituições de ensino como a FUNDARTE e o Sinodal, além dos alunos particulares migraram para o ensino remoto. Readequar as práticas pedagógicas para esse formato foi um grande desafio, tanto para os professores como para os alunos. Isso tudo ao mesmo tempo em que vivemos um momento de grande incerteza, de perdas e cuidados com os outros e consigo mesmo.

    Desde o início fui muito defensor de buscarmos uma forma de desempenhar um ensino remoto com a maior qualidade possível, de mantermos o vínculo com os alunos e famílias, o coleguismo e a chama de produzir arte sempre acesa. 

    Claro que os desafios foram imensos, nosso palco migrou para as plataformas de vídeos como Youtube e Facebook, nos acostumamos a tocar em frente a uma câmera. As conversas de corredor migraram para os grupos de conversa e envio de material. Além das aulas, planejamento e preparo de materiais passei a mixar áudio e editar vídeos. Claro que essas novas habilidades tiveram que ser aprendidas em tempo real, junto com as aula, planejamentos e etc. 

    Enfim 2020 foi um ano letivo muito diferente de tudo que já vivi, daquelas incertezas lá de março, passando pela reinvenção e adaptação, aconteceu muita coisa. No início de 2021 meus alunos da FUNDARTE realizaram esse belo recital que acho que sintetiza esse momento. 

    A arte vive e resiste. 



sexta-feira, 14 de maio de 2021

A. Barrios - Julia Florida

Fiz essa gravação em casa para testar alguns microfones, acho que foi lá em 2018 ou 2017. Cada vez tenho gostado mais de tocar as obras de Augustin Barrios. Julia Florida é simplesmente maravilhosa.  

https://www.youtube.com/watch?v=CG44tg3haYk



domingo, 9 de maio de 2021

Abismo de Rosas - Uma valsa e muitas histórias

    Nesse domingo de dia das Mães vou contar a história que une valsa, um teatro, um arranjo e um espetáculo

    Lembro da época quando eu estava dando meus primeiros passos com o violão clássico e a  minha mãe me incentivava sempre a seguir estudando. Com frequência ela mencionava um colega de faculdade que estudava violão clássico e, claro o meu avô Cauby que tocava gaita de boca em rodas de choro e seresta. Não pude conhecer o meu avô, mas pelas tantas histórias que já ouvi dele, sinto que temos uma conexão.

    Nessa época eu estava estudando as peças dos métodos do Henrique Pinto, alguns estudos do Carcassi. A minha mãe me ouvia estudar e opinava sobre as obras, mas um pedido era constante. Um dia eu teria que aprender a tocar Abismo de Rosas já quer era uma das suas músicas favoritas e meu avô a tocava maravilhosamente na gaita de boca. Depois fui descobrir que também foi música do casamento dos meus avós.

    Certo dia fomos procurar algumas partituras na Casa Beethoven em Porto Alegre e encontramos a tão falada partitura do Abismo de Rosas. A partir daí de vez em quando tocava para ela, ainda estava longe de ficar bom, mas já dava para ter alguma noção da música.

    Passou-se o tempo e meus estudos musicais seguiram, ingressei na faculdade e etc. A mãe era enfermeira e trabalhava na Santa Casa em Porto Alegre, no turno da noite. Teve um ano que ela chegou em casa toda animada dizendo que estavam construindo um Centro Histórico e Cultural na instituição e que ela iria contribuir com o seu imposto de renda pela causa. Foram muitos anos até ficar pronto. Lembro da primeira vez que fomos assistir a um concerto no teatro do recém inaugurado CHC Santa Casa. Na saída do teatro há uma parede com vários nomes de apoiadores da construção do centro. Olhei por uns instantes e lá estava: Jeanne de Campos Kreutz. Quando falei que encontrei o nome dela, ela não acreditou em mim, achou que eu estava brincando. Mas quando ela encontrou o seu nome lá não conseguiu conter a emoção.

    Nesse período o pedido deixou de ser que eu tocasse Abismo de rosas, mas que eu tinha que fazer um concerto lá no Teatro da Santa Casa. Então foi no final de 2017 eu pude contar a grande novidade. A Camerata Violões de Porto havia sido selecionada para tocar no tão sonhado Teatro. O espetáculo era Carmen e os Violões em parceria com a bailarina Ana Medeiros. Em 2018 o meu colega de camerata Marcel Estivalet, ainda veio com a ideia de gravar ao vivo o concerto e lançar um álbum. Pronto era tudo que eu precisava. Iria finalmente tocar no teatro e ainda por cima gravar um CD.

   O concerto/gravação estava agendado para o dia 14 de dezembro de 2018. A preparação estava grande e os ensaios eram intensos. Só que aí veio uma notícia completamente inesperada. A mãe veio a falecer em maio. Fiquei completamente arrasado. Do dia para a noite parece que o mundo inteiro mudou para mim. O jeito foi seguir em frente, não sei bem como. Eu não pude me despedir e precisava me expressar de alguma forma. Uma coisa era certa, agora aquele concerto teria outro significado. Senti que era para ela assistir de onde estivesse.

    Conversei com o pessoal da Violões de Porto eles toparam prontamente em incluir uma nova peça no concerto. Já eu, não sabia bem o que fazer. Tinha vontade de compor uma música para ela, talvez fazer um solo, já que gostava tanto quando eu tocava. Talvez fosse melhor fazer um arranjo. Foi então que  tive a ideia que colocamos em prática. Iria fazer um arranjo da tão pedida valsa Abismo de Rosas, aí pensei em colocar no início e no final da música um solo de alguns poucos compassos que compus pensando nela. Seria essa a minha homenagem e a minha despedida. 

    Aquela performance de Abismo de Rosas foi dedicada à ela que tanto amou a música, contribuiu para a construção daquele teatro e para a minha formação como pessoa. Quis expressar, dessa forma, o sentimento que tenho e da pessoa maravilhosa que ela foi. O seu legado vive em todos que tiveram o privilégio conhecê-la.

    Feliz dia das Mães,

    https://www.youtube.com/watch?v=-IlpN4YxaAQ

    






sexta-feira, 7 de maio de 2021

Violão em Tempos de Pandemia - I - Música

Em 2020 veio a pandemia da Covid-19. E nesses tempos de isolamento, de aulas remotas, de distância de pessoas queridas e dos palcos, fazer música foi uma das atividades que mais me ajudaram a seguir em frente. Claro que é difícil ficar sem uma perspectiva de tocar em algum lugar, ver gente e ter novas experiências, mas nesse momento sinto no violão, nas notas, nos arranjos e composições uma conexão com um mundo anterior. Um mundo real, mas também imaginado pela arte e suas conexões. 

Há muito tempo que gosto de compor, arranjar e criar alguma coisa com os sons. Sinto que é uma maneira diferente de me relacionar com a música em relação à interpretação. Daí em 2020 resolvi colocar a vontade em prática e passei a escrever algumas peças para o violão. 

Logo no início do ano resolvi fazer um Tema com Variações sobre aquela dança do caixão que viralizou na web. Chamei de Corona Variations, jamais como uma homenagem a esse coronavírus, que já levou muita gente querida e não merece nenhum reconhecimento, mas como algo que remeta ao momento em que vivemos. Momento, esse que é crítico e perigoso, mas que convida muita gente a relativizar os cuidados. Sinto que há quase como um dança macabra que envolve uma suposta coragem, negacionismo e a própria limitação humana de ler a realidade. Daí veio o Corona Variations. 

Usei como estrutura as Fantasias de Fernando Sor, com Introdução, tema e variações e finale. Busquei nas variações evocar alguns compositores, como Sor, Giuliani, Tárrega, Torroba, Bouwer, Krieger, e Dowland. Ficou assim.

https://www.youtube.com/watch?v=nTNMT0QYVA8